Com a presença de uma multidão de 50 pessoas, a adolescência política da UFAC realizou, neste domingo, uma reunião com a presença do deputado federal Glauber Braga, cujo mandato está por um fio em virtude de um processo de cassação a que foi submetido na comissão de ética, após expulsar das dependências da Câmara Federal, com chutes no traseiro, um cidadão que o havia questionado. Parece que ele espera que o país se levante em sua defesa.
Não bastasse a historinha e a “greve” de fome que protagonizou, ele promete completar o périplo pelos 26 estados, realizando o tal levante para, depois, realizar um grande evento no Rio de Janeiro. Ademais, quer que em todos os estados seja criado um comitê em defesa do seu mandato, o que configura uma rede de apoio nacional. Ironicamente, aquele que grita “sem anistia” para os manifestantes de 08 de janeiro, quer uma anistiazinha no escuro da Câmara dos Deputados.
Para quem conhece os meandros da política, é fácil perceber que o chutador de traseiros está mesmo é fazendo o jogo do ganha-ganha. Se for cassado mesmo assim, terá plantado sementinhas que poderá germinar em todos os estados. Se for poupado, surgirá como o grande deputado que pela força do povo se impôs à sanha persecutória de Arthur Lira e da direita. Nasce aí um líder nacional, quem sabe, um futuro candidato à presidência da República. Como todo esquerdista que se preza, ele esconde seu verdadeiro objetivo, é um embusteiro.
Obviamente, a reunião não teve nenhuma importância em si, é apenas um exercício entre manipulados e manipuladores como outro qualquer nas nossas universidades. Porém, como costumo ler e acompanhar o andar dessa gente, não pude deixar de ver o acontecido. Bem lá no fundo, rolou um certo saudosismo dos anos 70 quando fui líder estudantil, seguindo a máxima atribuída a Winston Churchill.
Do deputado ouviu-se uma desculpa esfarrapada para seu desatino. Sugeriu que o rapaz agredido o provocou naquilo que o desestabiliza, que seria alguma referência à sua mãe. É claro que não há provas disso, mas serve de consolo para quem deseja de alguma forma salvar a pele do extremista de esquerda, useiro e vezeiro em agredir verbalmente colegas de parlamento. Para ele, o presidente da Câmara, Arthur Lira, e outros deputados armaram um circo para cassá-lo. O sujeito se acha uma referência capaz de abalar a república e mover a maioria dos deputados contra sua pessoa. A história é uma fantasia completa.
Entre todas as falas, que foram do non sense ao ridículo, apresentando “novidades” como burguesia, latifúndio, camaradas, luta popular, enfrentamento do capitalismo, imperialismo, Mariguella, palestina etc., me chamou a atenção mesmo, por se tratar de uma professora graduada da UFAC, foi o discurso da presidente da associação dos docentes, ADUFAC, que, por sua função, deveria ser mais cuidadosa. Adultos não se obrigam à infantilidade por estarem numa creche.
Já de início, foi a única a se dirigir a “todos, todas e todes”, o que denuncia de imediato a desobediência indevida ao português básico e a subordinação descabida ao wokeismo de freguesia. Em seguida, tascou que o Congresso brasileiro é “hostil ao povo”, como se não fora ele totalmente eleito por este povo. Ao falar sobre o agro, dando um endosso para a manifestação dos meninos na reunião do GFC, a professora não poupou crítica ao agronegócio que chamou de agropop e responsabilizou por transformar o Acre em terra devastada. Por último, vitimou-se. Segundo ela, a reação da organização do evento foi um ataque à universidade. Aí, lascou.
É certo que não se pode cobrar de jovens imberbes nenhum rigor em suas falas, principalmente em um ambiente que lhes pertence, onde a máquina de plantar sandices lhes enfiou as sementes do esquerdismo. Haverá tempo para que revisem tudo isso e soltem-se das mãos dos manipuladores. Entretanto, pessoas que pela idade, formação e cargo, ocupam lugares importantes precisam ser consequentes, responsáveis.
De onde a professora tirou essa história de que o Acre agora é terra devastada? Ela saberia dizer do crescimento econômico e dos empregos e da renda que decorrem do avanço ainda tímido do agronegócio no ACRE? Desconfio que não. Ela saberia projetar um futuro de riqueza com base no que chama de agricultura de base familiar na Amazônia? Nem imagina. Ela saberia propor uma alternativa, ou ainda tem sonhos de florestania? Provavelmente dirá que o MapBiomas disse algo e pronto.
Não, criatura. O Acre não é terra devastada. O Acre é terra a ser ocupada por um projeto de desenvolvimento integrado a um projeto nacional idem que simplesmente não existe. O governo NÃO SABE o que fazer com a Amazônia. Embora a exiba em todos os discursos, sejam na ONU, no FEM, na COP, ou no raio que o parta, o único elemento palpável é o cadeado da Marina Silva, ou seja, um enorme e eterno NÃO PODE, que atinge desde rodovias cruciais até a exploração de petróleo no mar. Um NÃO PODE que, por exemplo, mantém milhões de pessoas sem água tratada e sem esgotamento sanitário adequado, este sim, o principal problema ambiental da região.
Sugiro que, da próxima vez, fiquem na bajulação do convidado ou, então, preparem-se para uma fala que, sendo pública, precisa ter seriedade. Não custa nada, tem muita gente na UFAC apta para elevar o debate ao invés de trazê-lo ao raso insciente.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.